sexta-feira, 27 de maio de 2011

A noite que nunca existiu.

Ele morava no Rio, ela em Brasília. Ele era casado, ela tinha um namorado em Belo Horizonte. Ele tinha um perfil no Facebook, ela também. Ele gostava do perfil dela, ela também gostava do dele. Algumas vezes passavam muito tempo conversando no “bate-papo”. Tinham vontade de se conhecer pessoalmente, mas ela nunca ia ao Rio e ele nunca ia a Brasília.

Um dia, ela publicou no mural: “Daqui a quinze dias vou ao Rio e quero conhecer todos os meus amigos virtuais de lá”. Ele curtiu. Ela voltou a publicar no mural: “Chego no Rio quinta de manhã e o love só na sexta à noite. Amigos do Rio, que tal chopp quinta à noite?” Ele ficou ansioso.

Ela chegou ao Rio. Ele foi ao chopp. Como ela era linda! Como ele era interessante! Muitos chopps depois, alguém deu idéia de um lugar para dançar. Ela ficou animada. Ele não sabia dançar. Então, na saída do bar, ele se despediu. Foi a vez dela ficar ansiosa. Ele chamou um taxi. Ela não tirou o olho dele. Antes de entrar no taxi, ele virou-se para olhá-la mais uma vez. Ela continuava olhando para ele. Ele hesitou. Ela sorriu. Ele chamou-a com um discreto aceno de cabeça. Ela dirigiu-se ao grupo, beijou a todos e foi para o taxi com ele.

Ele sugeriu um drink no Skylab do Othon da Avenida Atlântica. Ela ficou encantada. Conversaram de mãos dadas na mesa da varanda sobre o mar. Ele lembrou a ela que era casado. Ela lembrou a ele que tinha um namorado em Belo Horizonte. Ele imaginou se deveria continuar. Ela duvidou se queria recuar. Desceram ao lobby e alugaram uma suíte. Ela pensou que estava louca. Ele lembrou que adorava loucuras.

Ele amou-a calmamente, ela calorosamente. Ele foi atento, cuidadoso. Ela foi carinhosa, delicada. Ele a olhava contra a luz da lua lá fora e admirava a visão. Ela ouvia a cadência dos suspiros e sussurros e os transformava em música. Amaram um amor tão suave quanto intenso, tão eterno quanto efêmero. Ele disse que queria gravar tudo na memória porque era uma cena que jamais se repetiria. Ela dormiu agarrada ao peito dele como quem quer levar consigo para sempre uma noite que nunca existiu.

Tomaram o café-da-manhã de mãos dadas, olhos nos olhos e a felicidade nos lábios. Um último beijo, longo, com os corações apertados da saudade antecipada. Despediram-se na calçada do hotel, ele para o seu taxi, ela para o dela. Não trocaram o último olhar na ilusão de garantir que sua história de amor iria ficar para sempre inacabada.

Não se apaixonaram nem se tornaram amantes, mas se amam. Nunca mais se viram. Ainda batem papo no Facebook, mas nunca citam a noite que nunca existiu.

Foi uma linda história de amor, dessas raras histórias de amor, que pelo menos há de deixar saudades.